#Coluna do Nobre: Drug Parte I (capítulo 5- final)
Beatriz
Era tarde.
Voltando da faculdade aproximadamente às seis da noite. Alê chegava do estagio as cinco, uma hora antes de mim. O porteiro Francisco respondia sempre com um sorriso sincero no rosto. Disse também que Alexandre subiu um pouco alterado. O que estava acontecendo? Como rotina subia as escadas todos os dias, morávamos no terceiro andar não precisava de elevador, além do mais, é um excelente exercício para a panturrilha ajuda muito. "Cadê minhas chaves?", penso revirando a bolsa, de repente… graças eu achei estava no fundo a esquerda. (Só achei porque joguei tudo para o chão). Era mais fácil assim. Abro a porta…
Não quero lembrar-me dessa parte nunca mais, vou contar é preciso contar, enquanto minha bolsa era jogada lentamente no chão e minha afeição estampada no rosto se transforma em lagrima de: o que está acontecendo aqui, atormentando meu equilíbrio. O cheiro de cerveja era como incenso, a maçaneta do banheiro estava gosmenta e o carpete encharcado. "Alê?". Chamo. Entro no banheiro, a pia estava transbordando com água morna a torneira ficou ligada vazando muito, havia vomito por toda borda do vaso. O que estava acontecendo? Porque havia sangue entre o vomito e porque o espelho estava trincado com marca de sangue. "Alê, ai meu Deus, Alexandre?", penso ao ver uma seringa descartável jogada no lixo.
Na mesa de centro da sala de estar tinha dúzias de garrafas de cerveja, o que era aquilo? Mancha de cerveja escorrendo nas paredes. A cortina atravessada no meio da sala. "Alê, você esta ai?", chamo sem entender, pela cozinha estava tudo normal, sala de jantar também. Abro a porta do quarto… Senti algo perfurando meus pulmões impedindo-me de respirar, meu coração acelerou em segundos, a dor de ver Alexandre tremendo nu no chão do quarto me fez entender o que é morrer por dentro.
Quase não me lembro dessa imagem triste, Alexandre esta em coma há nove meses e talvez nunca mais volte, teve overdose de heroína e cheirou uma porção de cocaína junto ao álcool. Fumou muito também.
Avisei. Como eu avisei que esse lado que estávamos indo era perigoso, mas ele não me ouviu. Bem, fui impedida de visita-lo no hospital, dói tanto é como se fossemos uma só pessoa e quando as drogas o tiraram de mim foi como se rasgassem Alexandre da minha pele. Aprendi, como aluna da vida, a seguir em frente, a escolha é o fundamento principal do começo, meio e fim de uma vida. Ele escolheu ir pelo lado que o “matou”. Brigávamos direto por isso. Não havia limites.
Desejava estar lá dentro daquela sala. Durante duas semanas permaneci escondida do lado de fora do hospital, ventava forte na rua e a chuva era próxima. Vesti meu melhor vestido esperei, Elisa — sua mãe — disse que eu podia impedir Alexandre, apontou o dedo para minha inconsequência e rebeldia junto ao seu filho. É fácil um filho perder sua mãe mais a mãe ao seu filho? Nunca. Ela morre em seguida. E o gosto da culpa se multiplicava em mim. Eu como namorada senti-me culpada por não ter o parado. Ela contava comigo esperava que eu pudesse abrir os olhos de Alexandre, em vez disso eu segui o mesmo caminho dele e me tornei má assim como ele. A vida me apresentou a frase: "Siga em frente". Como resposta para meu sofrimento de: o que vou fazer sem o Alê? A vida disse apenas para eu seguir. Afinal o tempo não para.
Como pode em… como pode me deixar assim? Dessa maneira? Tínhamos planos perfeitos. Um herói acaba de cair tão fundo. Meu herói. Como dói. Como quero ver seu rosto pela ultima vez. Ele dizendo que vai ficar tudo bem.
Fiquei parada olhando para a janela do quarto onde estava era como se eu estivesse tomado pela manha uma boa dose de dor. Todo esse sentimento vem deixando cicatrizes em minha pele veem como minhas olheiras a cada dia se afundam mais! É tempo de dizer adeus para meu amor, devo dizer tchau eu sei, bem… Não dá, O.K., Alexandre foi o primeiro que amou meu corpo, amou meus beijos, amou meus toques, tudo bem, eu sei que preciso aceitar que você me disse adeus. Mas… não vou conseguir. Oh, meu amor preciso tanto de você. Preciso que você tente me conquistar todos os dias dizendo: Olá vizinho-namorada! Ou apenas "Bom dia minha flor do jardim". Com sua infinita cara de pau de todos os dias. Quantas vezes amei mais a você do que a mim própria. Não tem o direito de partir, esta me ouvindo, eu assumi o risco. Eu cantei isso para você.
Infiltro-me no hospital a primeira vez enquanto Elisa esta na recepção ajustando algumas coisas.
— Elisa, por favor, me deixa ver o Alê. Por favor! — Digo chorando muito.
Um silencio se implantou entre nos duas e ela me olha com um olhar de: eu sinto muito. Uma mulher sabia e forte entende como funciona um verdadeiro amor.
— Eu preciso sair para alimentar o Billy esse é o tempo que você tem para vê-lo. Ah, e mais uma coisa, eu conheço meu filho muito bem. E se ele esta lá em cima entre a vida e a morte, você garota, o matou. — Meu coração foi esmagado como se um punho tivesse o socado. — Você queria ir embora e o deixar, você era a única que podia deixa-lo assim. Meu filho é forte. Agora vá. Eu sei que você fica aos redores do hospital. Esta aqui sua identificação de visitante.
Subo de elevador até seu quarto.
Entro no quarto com os olhos secos. Por um lado senti raiva de Elisa foi uma cretina comigo, mas é a mãe dele. Sem emoção alguma me deito na cama junto aquele corpo apagado cheio de tubos respiratórios. Seguro nossa aliança como um amuleto para seguir em frente, meu amor você foi meu alicerce por um bom tempo sempre olharei para sua foto e direi que existem heróis. Beijo a aliança. Fecho os olhos e imagino o sabor de seus lábios, suas mãos me segurando firme apertando com força nossos corpos. Queria ter tudo de volta, com todo certeza, eu queria.
Fecho os olhos e tento sonhar com ele.
Sim, aceito… Aceito que você esta dormindo por tempo indeterminado, aceito te dizer adeus, aceito sofrer por enquanto para evoluir, aceito essa dor ela me fará crescer, aceito me casar com você para o resto da minha vida, aceito, aceito ter filhos e filhas com você Alexandre. Com você meu amor. Eu aceito que temos que morrer um dia. Mais você é eterno. Você é meu por toda vida
.
"Ei, garota dos olhos sedutores e dos lábios vermelhos. O que faz?" Ele e sua voz rouca enlouqueciam-me. "Estou estudando". Respondo meio sonâmbula. Era quase madrugada. Nosso apartamento estava frio, depois de quatro anos e dez meses de namoro resolvemos morar juntos, meu sorriso ia de orelha a orelha. Todo o santo dia brigávamos, estudávamos, jantávamos macarrão com salsicha, brigávamos por que sempre aparecia uma vaca mais gostosa e rica que eu na televisão. Obvio que eu me vingava. Ele roia as unhas de tanto ciúme. Eu gostava disso. Era engraçado ele com cara de raiva por eu babar por um modelo da televisão. Dai brigávamos de novo pelo controle. Bebíamos. Brigávamos. Nada nos cansava eram briguinhas nada vez mais a melhor parte sempre foram à reconciliação. Fazíamos amor durante a madrugada inteira. Eu o amava. Amo com todas as minhas forças e no final de tudo ele me tocava e me fazia queimar, queimar, era tão gostoso estar naquela cama com ele. Alê me fazia se sentir bem a todo tempo.
"Ah... Bom, Alê o grande tem uma surpresinha". Sim, ele estava fazendo aquilo. Fazendo cosegas na minha barriga sabendo que era meu ponto fraco. Filho da mãe. "Ha. Ha. Ha. Para Alexandre… Pelo amor de Deus Alê… Ahh… Alexandre. Ha. Ha. Ha". Eu chuto seu “amiguinho”. Alê cai para trás. Ai meu Deus o que fiz. Penso. Talvez ele não fosse parar, poxa, estava quase fazendo xixi. Caramba. Aproximo do seu corpo estatelado no carpete marrom do quarto, seu rosto estava vermelho. "Ah!" Ele me assusta. "Seu babaca. Idiota. Energúmeno. Imbecil. Eu te mato Alê. Não corre não… volta aqui garoto!". Corro atrás dele com muita raiva e sangue fervendo nos olhos. "Alexandre!". Grito. Ele entra no closet a tempo, de repente grito novamente para ele sair, mas escapa por pouco ao me enrolar num edredom. Não desisto só que o babaca me prende no banheiro juro que vou socar tanto esse garoto. Ameaço chutar a porta. Desisto o fazendo acreditar que estava chorando quando na verdade ligo o secador de cabelo em ar frio na cara dele. Alexandre cai e ai esta minha rica oportunidade de bater nele pra machucá-lo. Monto em suas costas e ele corre desgovernado até parar na mesa de jantar.
Mais… mais…
Uau!
Um lindo arranjo de rosas enfeitava a mesa de jantar no centro a esquerda da mesa um Jukebox com discos charme, as velas acesas na estante de louças. Vinho mergulhado no gelo. Iluminação a cargo das velas. O ambiente estava fresco e a comida cheirava tão bem. "Você fez isso por mim?". Ele me ajuda a sentar. "Fiz pra você, meu amor". Beija-me sem medo e sigo essa onda de prazer. Ele se senta do outro lado. "Eu te amo garota". Trocamos os alimentos servindo um ao outro. "Também te amo". Alexandre sorri lindamente como um menino que acabou de ganhar um videogame de ultima geração do pai. Seus olhos brilham para mim como nunca antes. "Se você diz".
Agora deitada ao seu lado entendo como é. Quero que saiba que quando o sol parar de brilhar e um dia o sorriso se desfazer, e as lagrimas rolarem de repente. Eu faria você sentir meu amor. Faria e faria e faria e faria… Quando a chuva deixar de cair e mesmo que as arvores não desse mais fruto, mesmo se goiabada ficasse sem o queijo e pão sem manteiga. Mesmo assim faria você me amar, pois não haveria nada melhor no mundo do que ficar longe dos seus braços. Queria dizer que muito obrigado meu amor por ser esse homem, por ser esse amigo, por me amar, por me fazer feliz.
— Alê. Alexandre. Alexandre. ALEXANDRE. NÃO. POR FAVOR, NÃO. SOCORRO. ENFERMEIRA. ENFERMEIRAAA…
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