#Coluna do Nobre: Romeo (Capítulo 5)

   

Alberto era uma mistura sensual de enigma e mentira, quase veio à mente que fosse um cigano entrando na vida das pessoas de uma forma errônea, mais nunca mais saindo de lá. Depois da destruição em massa epilogando histórias belas seguia seu caminho como mandava os astros. Seu deus era a estrada. Talvez por isso fosse tão invisível por sempre querer a mudança que a terra e as estrelas podiam proporcionar, com certeza, adorar o imenso quilômetro de um passado para um novo recomeço de historia deve ser excitante.
   Dentre os valores que Flora sempre tentou desmembrar por algum motivo ainda distante não obteve êxito em questão do Romeo, talvez quisesse provar alguma coisa para si própria.
   Romeo levou Flora para o trabalho     no bairro boêmio da cidade perto da zona portuária, jovens com cigarros nos lábios fumando seus pecados e bebendo seus perdões, como conseguiam sorrir diante do encarceramento? algo que realmente foi difícil compreender. Expert em desconstruir coisas desvendar paradigmas que sua própria mente monta tentando a preparar para tudo, Flora sentiu que Romeo veio como sol para iluminar, mais até quando esse brilho durará? Se durar primeiramente.
   Concluiu sem utopia alguma ou clichê que todos os dias de alguma forma queremos morrer, sério mesmo? Morrer? Morremos pelos excessos, morremos pela falta, vem a melhor parte do pensamento onde Flora conseguiu chegar perto da resposta ideal. Entrando no bar, Romeo a guia pelas fileiras de corpos dançantes até o bar no centro da casa de show, assim que chega o amigo passa o avental para ele assumir o bar.
“Toma alguma coisa — some atrás do balcão — aproveita que é por minha conta hoje”. Flora preferiu continuar sóbria.
   “Ainda estou me perguntando como vim parar aqui… ainda estou tentando compreender como. Se é que me entende?” Romeo atendia um rapaz musculoso do rosto espinhoso que mais parecia terra vulcânica cheia de crateras. Ele olha para outro cliente e de repente Flora sente que sua pergunta entrou na estratosfera sendo levada para a galáxia e além, então saiu de fininho até o banheiro. Queria entender sozinha olhando-se no espelho porque se encontrava ali, chegando ao banheiro entristeceu se, o banheiro grafitado com desenhos e escritas urbanas não tinha espelho, precisava da companhia de algo que refletisse sua imagem e dissesse exatamente o que queria ouvir.
Sai do banheiro sendo ofuscada pela luz negra e todos aqueles corpos dançantes chocando um nos outros felizes por algum motivo incerto.
  “Entendo você Flor”. Ele sorri para Flora de uma forma diferente sem deboche no canto dos lábios e ousadia nos dentes.
  Madrugada a dentro Alberto observava Flora dançar, ela se questionou por instantes da ilusão que aqueles corpos viviam mais entendeu o porquê eles dançavam. Então se jogou no desconhecido. Como está fazendo com Romeo? Essa magia envolvia seus sentidos. Aquelas luzes eram como magia fazendo você descer tão devagar quase como se fosse um vídeo que foi editado em câmera superlenta.
   De repente estava num táxi, Romeo deitado nos ombros da Flora que se assustou com o toque do taxista avisando que chegaram ao endereço dito. Paga o taxista que dobra a esquerda desaparecendo no negrume da madrugada.
  Romeo subiu as escadas um pouco alterado perdendo talvez sua lucidez mais sua fala dava sinais claros de lucidez, o que ocorria dentro dele então? Tudo bem, foi o que saiu dos lábios de Flora, que o observava ao subirem as escadas.            A respiração diferente era perceptível algo estava acontecendo, primeiro fato. Entraram no apartamento do Romeo, soltou lágrimas de dor que  desesperadamente escorriam banhando seu rosto avermelhado pelos socos que investia em seu próprio rosto tentando manter-se acordado a qualquer custo, lutava contra si próprio. “O que esta acontecendo?” Flora nervosa queria entender, mas ele não falava uma só palavra, seus dedos atrofiaram mais seus olhos apontavam estatelados em direção à geladeira.
   Flora corre até a geladeira, mais o que procurava? O que deveria fazer? Ela não sabia nada sobre a saúde do Alberto, enquanto procurava algo desconhecido ligava para emergência do hospital publico que logo atendeu, Romeo continuava a se bater querendo não dormir era como se estivesse possesso por um demônio.
  Flora vira um frasquinho jogado na pia no canto direito da cozinha escrito insulina, um instantâneo susto tomou o rosto da menina, Alberto era diabético precisava de algo doce. Desesperada pega um copo no armário enche com água mineral e adiciona açúcar, duas colheres exatamente. Suas mãos tremiam e seus olhos não conseguia evitar aquele corpo pálido suando frio gritando que iria morrer. Alberto diz chorando “Minha cabeça vai estourar”, Flora se aproxima rapidamente com o copo d’água, “Eu vou morrer Flor!”. Flora chorava levantando a cabeça de Alberto até seu colo e pedindo para que bebesse a mistura. Pedia para ser forte, “Por favor, por favor, beba você vai melhorar”, ele tremia como um epilético. Vomitou a água toda em cima do carpete da sala. Coloca a mistura novamente em sua boca e levanta seu queixo com força não o deixando cuspir a mistura. Um som forte vinha da porta da frente. “Esta aberta!”, grita, era os enfermeiros.
Em choque, o tempo havia tomado certa dose de lentidão, os dois enfermeiros levaram Alberto à ambulância dando tempo apenas para pegar sua carteira com os documentos e nada mais, os lábios dos enfermeiros enfatizavam com precisão cada processo e lúcido Alberto respondia se esqueceu de tomar a insulina ou bebeu algo alcoólico entre outras perguntas. Flora não tirava os olhos das mãos dele selando a dela sem erros, dedos entrelaçados, ambulância correndo, olhos vidrados, aquela dose de lentidão e o sorriso dele dizendo que estava tudo bem.

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