#Contos: Onde moram as nuvens - Capítulo 3

 


        

                Quando o avião pousou no aeroporto Cora Coralina, numa cidade próxima a Colina Azul o tempo estava nublado e garoando. O ânimo de Celina, que já quase não existia, reduziu á zero. Além da ideia de velar e enterrar seu único irmão, o pensamento de encarar Eva, sua mãe, a apavorava. Desde que saíra de sua terra natal o contato foi de esporádico a inexistente. Já com seu pai Gustavo, o contato já era um pouco mais frequente.

            Para a família, sair da cidade era um sacrilégio, e Eva não lidou bem, em especial por acreditar nas lendas que circulavam de boca em boca, de que os de seu sangue era que mantinham a ordem da natureza, e Celina era uma espécie de herdeira de seu dom, e que tudo desandou um pouco quando a mesma partiu. Saindo do avião, ela continuou remoendo seus pensamentos, decidindo usar seu tempo de trajeto até a casa dos pais para pensar.

        Conforme se aproximava, as árvores davam lugar as montanhas e as casas antigas e bem preservadas. No final de uma alameda, a grande casa em tons de azul em que Celina cresceu surgiu, com uma árvore centenária de cada lado, com ares de sentinelas. Pegando a única mala e sua bolsa de mão, Celina respirou fundo e tocou a campainha. Geyza, a funcionária de sua mãe a recebeu, com os olhos vermelhos e inchados.

- Oh minha querida, lamento tanto. - falou para Celina assim que ela deixou suas coisas na sala.

- Onde estão meus pais?

- Estão na varanda, seu pai está tentando ver se sua mãe come algo.

Antes de entrar, Celina ficou observando sua mãe. No alto de seus 50 anos, Eva possuia a beleza delicada estilo Audrey Hepburn. Por mais que o contato fosse escasso, seu coração se apertou ante o sofrimento dela e do pai.


            

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